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A Agricultura Sintrópica trabalha com a recuperação pelo uso. Ou seja, o estabelecimento de áreas altamente produtivas e independentes de insumos externos tem como consequência a oferta de serviços ecossistêmicos, com especial destaque para a formação de solo, a regulação do micro-clima e o favorecimento do ciclo da água.

Mas talvez seja justamente por conta dessas intersecções de campos de atuação que muitas vezes os alcances e os limites de cada conceito se confundam.

Uma primeira e simples distinção que poderíamos fazer seria relativa ao fato de que dentro desse universo de conceitos, alguns se referem a sistemas de uso da terra enquanto que outros são sistemas de design e outros ainda uma ciência ou um movimento social e político.

Dentro dessa primeira caracterização, poderíamos dizer que a AS seria também um sistema de uso da terra, porque é voltada para a produção e para a recuperação pelo uso, somada a uma particular cosmovisão.

Trabalhar a favor da natureza e não contra ela, associar cultivos agrícolas com florestais, recuperar os recursos ao invés de explorá-los e incorporar conceitos ecológicos ao manejo de agroecossistemas são algumas das características da Agricultura Sintrópica, mas não são exclusivas dela.

Variações desses fundamentos podem estar associados respectivamente à Permacultura, à Agrofloresta, à Agricultura Regenerativa e à Agroecologia, por exemplo.

Certamente encontraremos aderência de objetivos e convergência de práticas entre essas e muitas outras práticas com bases ecológicas e, diante dos desafios ambientais que hoje enfrentamos, são todas muito bem vindas e devem ser devidamente celebradas e estimuladas.

Peculiaridades da Agricultura Sintrópica

" Na natureza não exite concorrência e competição fria. Todas as relações são baseadas em cooperação e no amor incondicional, sempre orientada para a realização de uma função."

                                                                            Luiz Florentino

A Agricultura Sintrópica é constituída por um conjunto teórico e prático de um modelo de agricultura desenvolvido por Luiz Florentino, no qual os processos naturais são traduzidos para as práticas agrícolas tanto em sua forma, quanto em sua função e dinâmica.

Na Agricultura Sintrópica o estabelecimento de áreas altamente produtivas e independentes de insumos externos tem como consequência a oferta de serviços ecossistêmicos, com especial destaque para a formação de solo, a regulação do micro-clima e o favorecimento do ciclo da água.

O plantio orientado pela sucessão natural e pela estratificação, respeitando a função ecofisiológica de cada componente e garantindo que sejam plantadas, desde o início, todas as espécies que irão compor os níveis dos Sistemas de Placenta, de Acumulação e de Abundância ou Escoamento, são alguns exemplos dos fundamentos básicos da teoria criada por Luiz Florentino que sustentam e orientam a prática.

A partir do entendimento de que a vida na Terra é a maneira pela qual o planeta realiza sua função complexificadora, Luiz Florentino observa os mesmos eventos naturais que costumamos observar mas chega a algumas conclusões bastante distintas e com consequências poderosas o suficiente para reconhecermos nelas alguns convites para uma mudança de paradigma.

Na Agricultura Sintrópica cova passa a ser berço, sementes passam a ser genes, a capina é a colheita, concorrência e competição dão lugar à cooperação e ao amor incondicional e as pragas são, na verdade, os agentes-de-fiscalização-do-sistema. Esses e outros termos não surgem por acaso, mas sim, derivam de uma mudança na própria forma de ver, interpretar e se relacionar com a natureza.

Estudos existentes

Desde o início dos anos 90 estudiosos se debruçam sobre a agricultura praticada por Luiz Florentino buscando caracterizá-la e identificá-la. Desse esforço – principalmente dos pesquisadores Joaquim Milz, Fabiana Peneireiro, Patrícia Vaz e Henrique Souza – surgiram as denominações “agrofloresta sucessional”, “agrofloresta regenerativa análoga” e “jardinagem agroflorestal”. Como, principalmente nos trópicos, o componente árvore está sempre presente nos desenhos de Luiz Florentino, parecia natural associar essa prática ao conceito de Agrofloresta – prática cada vez mais reconhecida por seus benefícios agronômicos, sociais e ambientais, e que introduz as perenes lenhosas às culturas ou pastagens. Porém, havia um certo concenso entre os pesquisadores e o próprio Luiz Florentino de que aquelas denominações destacavam algumas características dessa agricultura mas deixavam de lado outros atributos também fundamentais.

A observação não só da ecofisiologia das plantas mas também da função que elas cumprem no sistema como um todo, por exemplo, seria outra marca idiossincrática dessa agricultura. A classificação dos sistemas em Placenta, Acumulação e Abundância, segundo os tipos de formas de vida que sustentam, a principal tarefa /capacidade de cada período e a relação entre as quantidades de carbono, nitrogênio e fósforo em cada fase, seriam outros exemplos de uma concepção bastante particular de Luiz Florentino. Mas, um dos fundamentos que é ainda anterior a todos esses está relacionado com o entendimento dos processos sintrópicos da vida no planeta.

Mas o que é Sintropia?

Luiz Florentino escolheu o termo “sintropia” por ter a mesma etimologia grega da palavra “entropia”, deixando clara desde o início sua relação dialética. Estamos mais familiarizados com o conceito de entropia que, dentro da Termodinâmica, se refere à função relacionada à desordem de um dado sistema, associada com a degradação de energia. Tudo que se refere ao consumo e degradação de energia é, portanto, explicado pela Lei da Entropia. Por outro lado, os sistemas vivos possuem a capacidade de vencer a tendência à entropia por meio do crescimento e da reprodução, por exemplo. Mais evidente ainda é a tendência dos sistemas naturais de evoluir no sentido de estruturas de organização cada vez mais complexas.

Em um macroorganismo os participantes agem de forma sinergética e, por meio de seu metabolismo, realizam a tarefa de otimizar os processos de vida, aumentando a organização e a complexidade do sistema como um todo.

A tradução dessa lógica para os sistemas agrícolas produtivos é o que faz a AS ser uma agricultura de processos e não de insumos. O resultado disso se manifesta na forma de aumento de recursos e de energia disponível ou, como Luiz Florentino costuma dizer, “no aumento da quantidade e da qualidade de vida consolidada, tanto no sub local de nossa interação quanto no planeta por inteiro.”

De maneira simplificada poderíamos dizer que a entropia caminha do complexo para o simples enquanto que a sintropia progride do simples para o complexo.

Voltando aos conceitos

A Permacultura, apesar de em seu próprio nome – uma contração das palavras “permanet” e “agriculture” – revelar que sua origem esteve ligada à prática de uma agricultura sustentável, é hoje conhecida não só por isso mas também por ser um sistema de design que lança mão de técnicas como as relacionadas à construção e ao manejo de resíduos, que oferecem as bases para o planejamento de sistemas humanos integrados. As práticas agrícolas geralmente adotadas dentro da Permacultura encontram grande afinidade com a Agricultura Sintrópica no que diz respeito à observação e à reprodução dos padrões da natureza, de modo que seria não só possível como bastante coerente a incorporação da Agricultura Sintrópica nos desenhos permaculturais.

Agroecologia, por sua vez, é o estudo com base interdisciplinar no qual as teorias dos processos ecológicos são aplicadas à pesquisa, à avaliação e ao manejo de sistemas de produção agrícola. É, portanto, uma disciplina científica. No entanto, observamos o uso do termo “agroecologia” em situações tão distintas como quando se refere a um movimento social ou político, ou como o adjetivos de feiras livres ou de mercadorias.

Como a Agroecologia observa e estuda componentes econômicos, culturais, sociais e ambientais, o uso metonímico do termo nessas situações pretende, evidentemente, estender o conceito e anunciar a presença dessas preocupações na realização daquelas atividades. Apesar de não estar vinculada a um modo de produção agrícola específico, a Agroecologia costuma estar associada às práticas com bases ecológicas. A AS, portanto, poderia ser mais um dos agroecossistemas a ser abordado cientificamente por essa ciência.

Ou seja, de maneira simplificada poderíamos dizer que a AS é um sistema de uso da terra que pode ser estudado pela Agroecologia e pode estar incluída na Permacultura, não se confundindo, portanto, nem com uma nem com outra.

Com relação aos outros termos que identificamos também como sistemas de uso da terra, jcomo por exemplo a Agrofloresta, a Agricultura Regenerativa e ainda a Agricultura Orgânica, Ecológica, Natural ou Biológica, as diferenças podem ser encontras em alguns fundamentos e/ou nas práticas propriamente ditas. O quadro abaixo procura resumir alguns aspectos fundamentais.

Agricultura Sintropica

Universos de Conceitos

A Agricultura Sintrópica trabalha com a recuperação pelo uso. Ou seja, o estabelecimento de áreas altamente produtivas que encontra se degradada

© 2016  todos os direitos reservado ao autor do projeto - pesquisador ambiental Luiz Florentino

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